Publicado em 3 de dezembro de 2019
Primeiro console de videogame da empresa Sony Entertainment – um dos braços da gigante corporação japonesa -, a marca Playstation completa 25 anos de história na próxima terça-feira (3/12). Em 1994, o videogame era lançado no Japão após a Sony ver negada sua proposta de investimentos junto à Nintendo – na época, líder isolada em vendas de console de mesa no mundo – para a produção de uma nova tecnologia em substituição aos cartuchos. O Playstation foi sucesso mundial de vendas desde sua primeira geração, e revolucionou a maneira como as desenvolvedoras de Jogos Digitais produziam e disponibilizavam seus produtos.
Em 1992, a Nintendo planejava uma expansão de CD-ROM para o Super Nintendo (SNES) – até então, o console mais potente e líder isolado em vendas não apenas no Japão, mas no mundo. Com isso, a Sony foi convidada a estabelecer uma parceria junto à marca. A empresa já havia desenvolvido o chip de som do videogame, e ao longo do projeto, viu que a proposta de transformar a mídia de gravação dos jogos – naquela altura, ainda no formato de cartuchos – era muito inovadora. Resolveu acordar em receber uma porcentagem das vendas do aparelho, nomeado Play Station, e de alguns jogos. Mas a Nintendo não aceitou e o acordo foi cancelado.
O resto da história é o mais óbvio: a empresa já trabalhava em um protótipo que rodaria jogos em CDs, e apenas precisou desse episódio para romper o contrato e lançar, em 1994, o Play Station, após decisão de Ken Kutaragi, engenheiro-chefe da Sony.
Logo após seu lançamento, uma das maiores empresas de desenvolvimento de jogos do gênero esportivo, a EA, anunciou uma parceria bilionária, criando a linha esportiva EA Sports, e lançando clássicos como FIFA, em parceria com a associação internacional de futebol, e F1, em parceria com a Fórmula 1.
Revolução
A chegada do PlayStation One, como ficou conhecido, trouxe não apenas a mídia física em games, mas também um sistema de modelagem em 3D muito mais fidedigno que a geração predecessora. Os jogos passaram a ter uma quantidade de pixels maior, o que significa mais resolução. “O console possibilitou uma qualidade gráfica maior e o uso de técnicas para jogos 3D que diminuem a quantidade de polígonos e, portanto, deixam os modelos mais leves e mais apropriados para o hardware da época”, explica o professor do curso de Jogos Digitais do Centro Universitário IESB, Felipe Vieira.
O professor também ressalta que o uso dessas técnicas fugiam da maioria dos jogos 3D até então, de computador, por não usarem a tecnologia da Microsoft, DirectX (que mais tarde, impulsionaria a criação do XBox, baseado também no sucesso da Sony).
Outra inovação trazida no console estava nas especificações técnicas. O chipset desenvolvido para o hardware era o LSI Logic Cor, com frequência de clock de 33.8 Mhz e barramento em 32 bits. Apesar da 5ª geração dos games já ter suporte a esse tipo de CPUs, o que se destacava o PlayStation era a largura de banda, com 132 Mb/s. Ele literalmente era uma máquina parruda pra época.
Mas a maior das inovações foi na usabilidade. A Sony introduziu ao mundo um formato de joystick moderno, confortável e tecnológico. A experiência de usuário mudou: o DualShock – nome do periférico, que atualmente está em sua 4ª geração – trouxe um sistema de vibração que era ativado em resposta a algumas das interações dos jogos, além de possuir, ao todo, 16 botões, incluindo os direcionais, e botões “escondidos” nos analógicos direito e esquerdo.
O console lançou tendência e, a partir deste momento, todos os videogames começaram a introduzir elementos se não iguais, bastante similares ao controlador incorporado. O padrão é seguido até os dias de hoje – claro, com algumas atualizações.
Brasil e as polêmicas
Mas nem tudo são flores e, mesmo sendo o segundo console mais vendido no mundo todo na história – desbancado apenas pelo seu sucessor, PlayStation 2 – com mais de 100 milhões de cópias vendidas, o PSOne não chegou ao Brasil de forma oficial. Isso porque, além da paridade do Real, a Sony teve de enfrentar um embróglio na justiça para registrar o nome do produto, já que havia outro produto “similar” registrado e circulando nas feiras e lojas de videogames.
“O problema é que o CD-ROM é uma mídia tão e fácil de desenvolver que pessoas comuns com um computador em casa poderiam criar seus jogos”, comenta o professor. “Enquanto pagávamos quase R$200,00 por um jogo original, era possível encontrá-lo por R$5,00 em vendas ilegais, ou até de graça caso a pessoa soubesse o processo de gravação”, conclui.
Outro problema que fez com que a Sony não pudesse rentabilizar ainda mais o console no nosso país foi a pirataria. A facilidade na importação, e talvez certa inocência da fabricante, as cópias que chegavam ao Brasil eram facilmente “traduzidas” e os jogos, vendidos a preços muito mais baixos que os oficiais.
A pirataria se apropriou do PlayStation. Porém, ao mesmo tempo em que não ajudou diretamente a Sony quanto ao valor arrecadado, trouxe muita popularidade à marca. Quando o PlayStation 2 foi lançado – desta vez oficialmente no nosso país -, em 2004, bateu rapidamente seu “irmão mais velho”. Foram 150 milhões de cópias vendidas, mas isso é história para outro dia. “Por mais que isso seja ruim para as desenvolvedoras, que deixavam de lucrar com seus jogos, não foi tão ruim para a Sony, que viu a venda dos consoles subir por este fenômeno”, explica Vieira.
Importância para a atualidade
Hoje, os Jogos Digitais formam uma das maiores receitas na produção audiovisual no mundo. Há quem discorde que seja comparável ao Cinema ou à Televisão. Mas não há quem negue a força que eles têm na economia. O PlayStation foi um marco na história dos videogames. Quem nasceu depois dos anos 2000 viu apenas Sony e Microsoft, com seu console XBox, duelarem pelo topo da popularidade entre os fãs de videogames.
Celebrar o aniversário do PlayStation não é apenas comemorar o sucesso de um produto que usamos para nos entreter. É comemorar a revolução na forma como enxergamos a construção e o desenvolvimento de Jogos Digitais. É comemorar a possibilidade de, hoje, termos profissionais dedicados a essa demanda, e a possibilidade de oferecer educação tecnológica às pessoas, através do desenvolvimento de jogos.
Por Felipe Caian Dourado